Âmbar compra fatia da Eletrobras na Eletronuclear
Fonte: Valor Econômico
A Âmbar, braço de energia do grupo J&F, anunciou ontem a assinatura de um
contrato para comprar a totalidade da participação detida pela Eletrobras na
Eletronuclear, responsável pela operação das usinas de Angra 1 e 2, em Angra
dos Reis (RJ).
O valor da transação é de R$ 535 milhões e inclui a assunção de R$ 2,4 bilhões
em debêntures e de garantias financeiras da estatal referentes ao Termo de
Conciliação firmado entre a Eletrobras e a União no âmbito da Ação Direta de
Inconstitucionalidade (ADI) nº 7.385. O negócio marca a estreia da Âmbar na
geração de energia nuclear e amplia sua presença no sistema elétrico brasileiro.
O acordo libera a Eletrobras de responsabilidades remanescentes com a
Eletronuclear, melhorando o perfil de risco e permitindo a realocação de capital,
conforme diretrizes do seu plano estratégico. A operação, assessorada pelo
BTG Pactual, foi resultado de um processo competitivo iniciado em 2023. Com
valor contábil de R$ 7,8 bilhões registrado na coligada no segundo trimestre de
2025, a venda gerou uma provisão de aproximadamente R$ 7 bilhões nas
demonstrações financeiras da Eletrobras.
O mercado reagiu bem. O Citi disse que a venda da participação da
Eletronuclear é um movimento estratégico claramente positivo para a
Eletrobras, já que remove passivos e garantias do balanço da empresa, simplifica
sua estrutura corporativa e libera capital para ser reinvestido nas áreas
prioritárias da empresa.
O Itaú BBA afirmou que a antiga estatal fez o último esforço de redução de
risco desde a privatização. Já a Ativa Investimentos afirma que a operação
reforça a tese de otimização de capital e simplificação corporativa. Com a
repercussão, os papéis fecharam o pregão valendo R$ 53,05, alta de 2,33%.
A Eletronuclear opera as usinas Angra 1 (640 MW) e Angra 2 (1.350 MW), além
de desenvolver o projeto Angra 3 (1.405 MW). Juntas, as três unidades somam
potencial de cerca de 3.400 megawatts (MW), energia suficiente para atender
mais de 10 milhões de pessoas. Em 2024, a empresa registrou receita líquida de
R$ 4,7 bilhões e lucro líquido de R$ 545 milhões.
Com a conclusão da transação, a Âmbar passará a deter 68% do capital total e
35,3% do capital votante da Eletronuclear. A União, por meio da ENBPar
(Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional),
manterá o controle da empresa, com 64,7% do capital votante e 32% do total.
Ao Valor, o presidente da Âmbar, Marcelo Zanatta, disse que o racional da
aquisição foi avaliado a partir de dois fatores: o fluxo estável de receitas das
usinas Angra 1 e Angra 2, cujos contratos de fornecimento de energia vão até
2044 e 2040, respectivamente, e o posicionamento estratégico para uma futura
expansão da geração nuclear no país.
“Seja em Angra 3 ou em outros projetos, a Âmbar passa a deter uma posição
privilegiada para participar deste processo de expansão, por ser o único agente
privado com participação no setor de geração de energia nuclear”, disse.
A retomada da terceira central nuclear ainda carece de decisão do governo. O
Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) pediu para que o BNDES
atualize os estudos de viabilidade. Dados anteriores apontavam a necessidade
de aportes da ordem de R$ 25 bilhões.
A viabilidade de novos empreendimentos nucleares com apoio da iniciativa
privada passa pelo enquadramento constitucional e legal, já que esse tipo de
projeto é de controle da União. O contrato assinado não contempla
investimentos da empresa dos irmãos Batista em Angra 3, caso o governo
decida retomar o projeto. Sobre isso, Zanatta diz que a empresa seguirá
analisando todas as oportunidades possíveis.
Segundo o executivo, a corrida global por energia elétrica impulsionada pela
inteligência artificial e pela expansão dos data centers foi o motor da decisão da
Âmbar para comprar a participação da Eletrobras na Eletronuclear e entrar no
segmento nuclear.
A Âmbar atua nos mercados de geração e comercialização de energia elétrica
com mais de 4,1 GW de capacidade instalada. O crescimento no setor ocorreu
quase sempre por aquisições de ativos considerados problemáticos, mas que
depois se tornaram lucrativos. Hoje, são mais de 50 usinas.